Thursday, March 22, 2007

A Caneta.

Boa Noite.

Nas aulas de redação, uma boa divagação vai bem, não?


Imagine a cena: Um juiz, prestes a decidir um julgamento importante, precisa assinar o papel para confirmar a sentença, que mudará vidas.Todos esperam, algumas chorando, outros somente ansiosos pela decisão, para poder gritar "viva!" ou se consolarem num ombro amigo, lamentarem, decepcionados.A tensão cresce a cada segundo em que o juiz lê, mentalmente, palavra por palavra, a sentença.Quando alguma ação decisiva se mostra, todos viram os olhos para o juiz.A cena é, no mínimo, estranha.O juiz tateia os bolsos, com certa vergonha no rosto, examina a mesa, e todos os objetos próximos, e após alguns segundos, desiste, falando ao júri: "Estou sem caneta.Alguém pode me trazer uma caneta, por favor?"Todos sorriem levemente, afinal, não é todo dia que um juiz é pego assim, de surpresa.Um membro do júri entrega a tal caneta, e o julgamento pode continuar.

Fatos como esse demonstram a importância desse objeto cotidiano, e a nossa "dependência psicológica" em relação á mesma.Mesmo no séxulo XXI, era digital virtualesca, a caneta ainda é, e muito, utilizada.Me perdoem os internautas de plantão, sou aficcionado por novidades, mas fico com os saudosistas nesse tópico.Nenhuma mensagem por internet tem a confiança de uma assinatura feita á caneta, com a mão do assinante, e de mais ninguém.

É de merecida responsabilidade, afinal, a caneta esteve presente em quase todas as grandes decisões, acordos, eventos, movimentos e reuniões.Já confirmou acordos de paz ou de guerra, já salvou e acabou com vidas, já decidiu todo tipo de movimentação desse mundo.A redação definitiva do vestibular é feita a caneta, a marcação no gabarito, toda assinatura de casamento e divórcio, compra e venda de imóveis, de produtos, de empresas, enfim, tudo é corroborado a caneta.

Talvez toda essa bagagem cultural e histórica dê á caneta esse ar de confirmação definitiva, sem caminho de volta, essa sensação de imutabilidade.Uma caneta pode decidir coisas grandiosas, a depender da mão que a segura.Devo explicar que compreendo que a mão que a assina, a cabeça que pensa na decisão, importa muito mais do que a caneta.Mas é exatamente nesse ponto em que a minha tese se confirma.Se mesmo as mentes mais geniais, estratégicas, loucas e importantes decidem tudo a caneta, isso não confirmaria a sua importância? Qualquer gênio pode querer confiança, mas muito raramente sem um contrato.Os grandes músicos assinam contratos, os presidentes, os reis, todos.

Os contrários podem citar a tinta corretiva, mas não posso, de maneira alguma, imaginar o presidente Kennedy passando corretivo em sua assinatura, antes de confirmar o lançamento da bomba atômica, ou até mesmo Hitler, na calada da noite, passando corretivo em sua assinatura do tratado de não-agressão com a URSS.Os homens passam, sim, por cima de assinaturas, não me engano.Mas, ao fazê-lo, perde toda a confiança, toda a credibilidade, o que geralmente não é favorável.Hitler talvez seja um grande exemplo desse fato.Ao passar por cima de uma assinatura, de um contrato, torna-se um ser repugnante.A confiança é uma virtude pela qual o homem preza de maneira universal.

A sociedade criou a caneta, e a mesma tornou-se sinal de definitividade.A tinta é como o sangue fora do corpo.É marca que não sai facilmente, uma assinatura.A caneta representa o medo de errar, já que não existe volta.A caneta é a confiança desconfiada.

Eu, particularmente, prefiro o lápis.Não por insegurança ou medo de errar, mas pelo fato de achar mais bonita a cor do grafite.O azul da caneta não me atina para a vontade de escrever.Comecei esse texto exatamente pela falta de uma ponta para a lapiseira, e o escrevo a caneta, sem medo de errar, mas com um leve receio de desrespeitar esse ícone de toda decisão, a caneta.

Boa Noite.

Quanticum.