Monday, December 31, 2007

Dois mil e xis.

Boa Tarde.

Hoje é o último dia do ano de 2007.Eu não sinto vontade nenhuma de fazer retrospectivas.Quero falar, mais uma vez, uma coisa que penso.

Eu acredito já ter falado aqui no blog sobre o tempo antes, sobre o caráter inconstante e "atropelante" das horas que passam todos os dias diante dos nossos olhos e das quais nós parecemos estar sempre correndo atrás.Pensando no tempo, fiz algumas reflexões inquietantes.Percebi que os últimos momentos de um processo qualquer e a finalização de um ciclo que foi estabelecido há muito tempo costumam incitar alguns pensamentos que não são comuns no nosso dia-a-dia, como o sempre presente "o que eu fiz ou deixei de fazer?" ou então "o que vou estabelecer como meta?".É curioso que nós nos movamos inercialmente durante todo o ano, nos movimentando de forma retilínea e rotineira no agir, nunca pensando em diversificar as nossas atitudes, o nosso espaço e as nossas perspectivas de uma maneira realmente sólida e concreta, e no final do ano, no último momento possível dentro desse ciclo que já acabou, desejemos mudar as coisas no início do próximo ciclo que se inicia.Vivemos o ano inteiro trabalhando das 7 da manhã até 5 ou 6 da tarde, e só paramos pra pensar nas nossas mudanças que pra nós realmente são importantes na passagem do último segundo da meia-noite, quando nós estamos normalmente dormindo.
É aqui que entra o meu ponto de vista, que para o espanto de alguns, não é uma crítica.Eu não acho que essa atitude que nós temos em relação ás nossas conquistas e mudanças seja uma coisa ruim, talvez seja ingênua, mas não ruim.A questão é que ás vezes me parece que a própria mente humana trabalha à frente das suas pernas e braços, e a finalização de um ciclo significa exatamente colocar-se lado a lado com os seus pensamentos, e eles sempre vão refletir nos seus desejos, nas suas perspectivas de missões e futuras conquistas.O corpo se move a todo momento para alcançar esses desejos, seja trabalhando numa firma mecanicamente, ou viajando pelo mundo fazendo arte, escrevendo, seja lá o que for.O que precisamos perceber e parar de julgar, é que temos desejos diferentes, e que damos conta daquilo que conseguimos lidar.
Então, agora que é possível pensar na vida de uma forma geral, agora que pode-se equiparar em sentimento com as mentes, eu quero muito refletir sobre tudo: Passado, presente e futuro.Quero muito aprender a tomar conta das coisas que penso cada vez mais, aprender a organizá-las mais, a deixá-las mais claras, mais verdadeiras e sinceras.Bom, acho que na minha tentativa de não fazer desse texto mais uma mensagem de fim de ano, não fui muito bem sucedido.O que quero dizer, de verdade, é que tudo que eu sempre disse continua fazendo parte do que penso, da mesma maneira ou de uma maneira repensada, talvez mais digerida.Se é necessário refletir pelo menos uma vez na vida, eu quero muito refletir hoje.Espero que hajam outras pessoas que também queiram.

Ao som de Johnny Cash, rugindo como um rádio velho.

Curtam bastante hoje á noite.

Boa Tarde.

Quanticum.

Friday, December 28, 2007

O início.

Boa Tarde.

Tenho muito mais dificuldade em iniciar
Do que em concluir um poema.
O início é vacilante e arriscado
É escarlate de sangue quente
Chora feito um condenado
Berra um tom de quase gente.
Já o fim, por outro lado
É a insuficiência
Respiratória, renal
É câncer e diabetes
É a secreção, a consequência
Dos versos ditos pela metade.
O final vive num asilo
Numa poltrona coberta
Por lençóis rotos que um dia foram belos
E agora confortam um corpo, um peso quase morto.
Vivo apenas por aqueles que a ele ainda amam,
O final é o sofrimento do excremento dos nossos erros
É o reflexo do que fomos pelo que agora somos.
Toda a escuridão do fim
É o cansaço da luz que brilhou por muito tempo
E que apaga guardando o brilho
Dentro do coração do ser
A tristeza do final
Só existe se há mal
Na maneira do viver.
A consequência mais inconsequente do ser
A volúpia mais intensa do coração
A explosão mais interna de emoção
É a dinamite do surgir.
Só se parte, se se chega
E só se parte se uma parte
Do seu partir for o nascimento.
Por isso, nem sei se concluo de verdade
Mas utilizo o mais alto artifício
Mesmo com toda a dificuldade
Eu termino o meu poema com: Início.

Não é mole ser gente.

Boa Tarde.

Quanticum.

Thursday, December 20, 2007

Veloz cidade.

Boa Tarde.

Bom, estou de férias.Seria preguiçoso da minha parte não relatar mais nada aqui por muito tempo.

Ontem saí pra andar com os meus patins.Fazia um tempão que eu não andava, eu nem lembrava mais como era bom o sentimento de deslizar pelo chão de concreto, estava com saudades.Saudades daquelas de pessoa mesmo.Eu acho que a saudade personifica qualquer coisa que faça uma certa falta na nossa vida, a saudade dos tempos de criança, do pôr-do-sol, da praia, de jogar bola e suar bastante, isso tudo acaba se tornando, de certa forma, alguém.E você pode sempre visitar esse alguém, sentir, dialogar, dar e receber conhecimento.
Pois ontem eu vi o sol se pôr deslizando pelo chão de olhos fechados, como não fazia há muito tempo.Eu senti que quando curamos essa saudade, temos motivos de sobra pra sorrir por um bom tempo.Ralei meu joelho, cortei o dedo, mas não dei a mínima.A saudade, amigos, é o sangue quente.Não tem ferida que doa tanto pra te tirar da potência do sangue bombeando e esquentando seu corpo inteiro, você nem se lembra e nem quer lembrar daquela ferida que vai sarar logo logo.Essa foi uma das conclusões a que pude chegar escrevendo esse texto, que todas as pessoas deveriam correr um pouco todos os dias, ou fazer algum tipo de exercício pra esquentar o sangue.O sangue quente é o momento que o seu corpo tem liberdade pra decidir no que pensar e no que não pensar, liberando todas as endorfinas que nos fazem sentir bem, sentir livre, se livrando de todas as sujeiras que a gente come, bebe e fuma todos os dias e emporcalham o nosso corpo.
Essas porcarias (que são muito prazerosas, é claro) são os nossos futuros cânceres de pulmão, cirroses hepáticas, diabetes, hérnia de disco, arteriosclerose e outros.Por favor, não achem que eu abomino o uso de qualquer dessas coisas, cada um tem seu livre arbítrio, e a vida é feita para se gastar mesmo.Eu não estou dizendo pra ninguém parar de fazer o que gosta, mas se você tiver um mp3 em casa, coloque as suas músicas preferidas, saia de casa e vá correr, ou andar de bicicleta, de skate, ou se você for como eu, coloque seus patins e voe, pelo menos uma vez.Experimente.Aproveite e me chame também.
Bom, agora voltando ao ponto a que eu me referia no começo, a cura da saudade.Eu percebi, ontem, que a saudade é o sentimento que mais permanece dentro dos nossos corações.A saudade se esconde, fica estigmatizada entre os seus nervos menos sensíveis, à espera de um momento pra explodir e causar em você alguma descarga forte de sentimentos.Quando você vê uma foto, um quadro, uma cena, uma flor, ou qualquer coisa que desperte o gatilho da saudade, alguma parte do seu corpo desaba.Ás vezes num choro torrencial, numa risada interminável, num sorriso de orelha a orelha, num abraço forte.Percebem como todas essas coisas são descargas de sentimentos? A cura da saudade nunca termina, pois a saudade se renova.A cada momento, novas coisas se criam, novas pessoas, novos momentos, e cada um deles tem um lugar reservado para a sua futura saudade.Nós, seres humanos, somos eternos guardadores de saudades.
Sabem o que eu acho muito engraçado nisso tudo? É que nós adoramos guardar saudades.Nós fazemos culto ao que sentimos falta.Nós gostamos de registrar os momentos, as pessoas, os objetos, tudo isso, porque gostamos de sentir falta delas mais tarde! Nós, pequenos homens desse planeta azul, somos escravos do "valor sentimental".Todas as quinquilharias que morrerão antes ou depois de nós e que nós insistimos em guardar e mofar dentro de caixas e mais caixas, são o que são pelo valor sentimental que tem.É engraçado pensar que nós guardamos as nossas saudades, nós adoramos a nossa nostalgia e adoramos a autoflagelação do sentir falta.A saudade é a droga que não ousamos sentir no presente, não ousamos controlar.Ela virá no momento certo, e nos fará muito bem, não importando o que se sinta.Eu sempre achei que todo sentimento valesse a pena, fosse ele triste ou alegre, dentro de todas as suas variações.Agora eu confirmo.Realmente, todo sentimento é bom, e todo sentimento é desejado.Não tenha medo de chorar, pois você adora chorar.Adora tanto que guarda fotos, textos, músicas e todas as coisas que te lembram determinadas coisas e pessoas, só pra poder chorar e fazer aquela saudade escondida dentro de você explodir de novo.

Acho que é a primeira vez que faço isso, mas as músicas que me fizeram pensar e sentir isso foram:
Sting - Lazarus Heart
Sting - Englishman in New York


Boa Tarde

Quanticum.

Sunday, December 09, 2007

Detetives de nós mesmos.

Boa Tarde.

Bem, ontem tive uma noite daquelas, que me deu uma inspiração pra escrever um pouco, em especial por causa do melhor tipo de amizade que se pode fazer: aquela que você não espera.

Eu percebo, muitas vezes, que as pessoas se sentem muito sozinhas consigo mesmas, e sofrem por não conseguirem entender a razão de se sentirem solitárias no meio de uma multidão de outras pessoas.Como eu já disse muitas vezes aqui nesse blog, o que une as pessoas, na verdade, é algo muito diferente da visão, audição e tato.Não estou dizendo que esses sentidos não aproximam as pessoas, mas sim que a complexidade de uma amizade nunca pode ser medida apenas por coisas fugazes como tocar ou olhar para uma pessoa.Muitas vezes aquele alguém desconhecido lhe chamou a atenção desde o começo sem explicação alguma, e a sua afinidade com ela é anterior à sua primeira conversa, o seu primeiro olhar é muito mais intenso e direto do que os próximos olhares, que virão já carregados de um conhecimento prévio e uma noção do que se deve dizer ou não dizer.Quando eu digo isso, acabo caindo na opinião falsa de que as pessoas perdem a graça com o tempo, e isso não é verdade.Somos todos enormes poços de opiniões, desejos e sentimentos que a nossa limitação humana não nos permite perceber apenas com o sentir.É preciso perguntar, responder, sorrir e receber sorrisos para entender onde fica a estância mais profunda do ser de qualquer pessoa.
O que me assusta nas relações humanas, é o sentimento de percepção da vibração que nós não controlamos, apenas sentimos.Me surpreendo com pessoas que sempre me chamaram a atenção e aos poucos vão surgindo na minha vida sem que eu perceba.A vibração entre as pessoas é tão forte que muitas vezes parece que estamos uns entrando na vida dos outros de propósito e sem perceber! O ideal concreto da sociedade crê que a essência humana é mais sozinha do que social, e que o egoísmo e a individualidade são valores intrínsecos da personalidade do ser humano.Não posso dizer que discordo totalmente, pois realmente muitas construções e desejos da sociedade tem profunda absorção desse pensamento.Nunca paramos, porém, para avaliar as nossas relações, e a forma como se organizam os "bantos" da sociedade.A vibração que temos uns com os outros nos aproximam como imãs, se atraindo ou se repelindo, e nós não parecemos capazes de enxergar isso.Eu peço que vocês observem bem os seus amigos, e como vocês se conheceram, como foi a primeira vez que se viram, que se falaram, qual o olhar que tinham um sobre o outro.Acreditem, eu posso apostar que existe uma pessoa pelo menos que tem uma história engraçada ou esquisita sobre como vocês se tornaram amigos.Esses amigos são os que costumam tocar mais forte no coração, e os que arrancam um sorriso ou dão um abraço mais facilmente.É preciso aprender a sentir e a entender seus sentimentos diante dos outros, pois quando você consegue ver a vibração que se estabelece com determinada pessoa, vai sentir-se caminhando ao lado dos seus sentimentos, esperando o momento em que eles o atirarão nos braços do seu futuro amigo.
Bom, posso dizer que nessa noite eu me constatei um pouco mais quântico (que a liberdade poética continue me permitindo usar esse termo!) diante da minha prória mente.Mais uma vez, eu pude sentir, e quase claramente ver como o mundo vibrou para me conceber essa percepção.Mais impessoalmente falando, ás vezes parece que é possível prever o futuro para dentro de si mesmo, como se a sua mente soubesse toda a verdade sobre a vida, mas se recusasse a deixar você ver, e assim entender que cada momento é um novo laço entre as pessoas, os objetos e o mundo como um todo.Cada novo segundo arrasta e ao mesmo tempo arremessa para longe todos os segundos anteriores, e todo segundo vem sempre preenchido por completo.
Pois então, eu aconselho que vocês observem.Essa não é a primeira, e nem será a última vez que isto virá escrito aqui.Observem cada segundo, cada momento, cada rosto e cada sorriso, percebendo como esse momento atinge você, e a depender da maneira como você se sinta atingido ou atraído por alguém, observe como o espaço vai se movimentar e se modificar para que você entre em contato com aquela pessoa.E quando isso acontecer, vai te restar o mesmo sorriso de satisfação e a perplexidade feliz no rosto que eu venho tendo nos últimos tempos.Experimentem ser os seus próprios detetives, seguindo as pistas que a sua mente deixa, e chegando no fim à resolução e ao auto-julgamento: Somos assassinos e assassinados de nós mesmos, sem deixar lembranças ou recados.A mente não deixa recados, pois é um recado por si mesma.

Para uma futura jornalista e futura presente amiga, para quem eu nunca esperaria escrever um texto.

Boa Noite.

Quanticum.

Tuesday, November 27, 2007

Uma poltrona.

Boa noite!

São 11:32 e eu preciso escrever algo.Aí vai.

Era mais um dia comum no céu.Sentado naquela poltrona, sentia o céu igualzinho ao mundo, apesar de no céu haverem algumas limitações, algumas pequenas diferenças, como ninguém nunca envelhecer, não haver comida, bebida e, principalmente, não haver tristeza."O céu é um lugar legal", pensa."Pelo menos aqui não tem autoridade pra nos submeter a nada, e ninguém tem medo da morte, pois aqui a gente não tem morte.Aqui a gente espera pela vida de novo".E naquela mesma poltrona, começou a pensar que o céu era como a vida, a gente achava meio chato no começo, ficava meio indignado com as regras, mas no fim das contas ia se acostumando.
Conheceu Napoleão alguns dias antes, que continua parado no portão sem saber se vai entrar, e se decepcionou: ele não era um bom companheiro de conversa, pois não sabia escutar os outros.Conheceu alguns santos, pessoas legais, mas muito ocupadas.Conheceu São Pedro, não no portão de entrada, pois não é ele quem nos recebe, isso é loucura das historinhas da Turma da Mônica, na maioria das vezes é mais algum anjinho loiro de cabelos cacheados que era modelo na terra.Conheceu São Pedro no dia de uma tempestade terrível que inundou a Tailândia inteira, foi um caos tão grande que o próprio teve que sair pelo portão da frente pra resolver a situação.Não havia conhecido muita gente, no entanto.O céu era um lugar grande, e nunca seria possível conhecer tudo, pois o céu era, sim, infinito.
Naquela manhã obviamente azul-turquesa, o sol batia ainda fraco por debaixo das nuvens, mas fazia com que a temperatura ficasse levemente agradável, com aquele ar ainda frio da madrugada, e uma leve sensação de que o chão ia se esquentando junto ao dia.É engraçado que no céu sintam-se os dias como se sente na terra.A madrugada e o seu silêncio que acalma os nervos, a manhã e a freneticidade das 9:30, onde sem dúvida existem aspiradores de pó barulhentos ligados em todos os lugares, o quedar da tarde amarelada, como se o dia estivesse descansando daquela manhã cheia de sol, de sons e movimentação.Daí para o início da noite, ainda se livrando dos últimos resquícios de loucura do mundo, até a perfeita calmaria que vai até a nova madrugada.O céu não é diferente.Ás vezes acomodava-se naquela poltrona
o dia inteiro, só para sentir como é viver como o dia.No céu, não há tempo a se ganhar, temos tempo para tudo, e ainda sobra tempo pra não fazer nada mais tarde.
Já era a sua primeira semana no céu, e ás vezes pareciam meses, ás vezes pareciam segundos.Ouvia vozes que somente ele ouvia, mas todos diziam ser completamente normal nos seus primeiros meses no céu.Até agora, não achara muitos passatempos.Tocar harpa era difícil, e nunca teve aptidão para música, conversava ás vezes, mas não tinha muitos amigos, e não queria trabalhar no portão, nem na burocracia do purgatório.Gostava de sentar na poltrona e observar o dia passar, por mais chato que parecesse ser, nunca era tão maçante assim.Algumas pessoas paravam para conversar, ou lhe questionavam o porquê de não sair dali, no fim costumava ser divertido.
Ali sentado, lembrou-se do dia em que chegou, e encontrou Napoleão gritando furiosamente que merecia entrar no céu devido aos seus feitos, e um velho barbudo que parecia ser São João acalmava-o pacientemente.Havia também um senhor magro e idoso que gritava o apocalipse aos berros para a terra, que já não podia ouvi-lo mais, e muitas poltronas, todas ocupadas.A maioria das pessoas permanecia calada, alguns falavam sozinhos, ou balançavam-se como se estivessem deixando-se levar pela tranquilidade dos céus.Era um ambiente ás vezes tenso, ás vezes muito tranquilo.Num pequeno balcão, ficava uma moça jovem que conversava com aqueles chegavam, tranquilizando e explicando o que havia acontecido.Era claro que haviam aqueles que não acreditavam, que gritavam, tentavam voltar, chamavam pelos entes queridos, se beliscavam, mas era tudo em vão.
Ele não teve problemas.Nem no dia da sua entrada, nem nos subsequentes.Diziam que seu espírito tinha um tom branco azulado, e que isso era uma coisa boa para os que viviam no céu, pois era um sinal de pureza celestial.Aceitava viver aquilo, como aceitou viver tudo que viveu na terra.Apenas incomodavam-lhe um pouco aquelas vozes que ecoavam nos seus ouvidos.Apesar de não compreender o que diziam, sabia que não eram sempre vozes direcionadas a ele, mas conversas de todo o tipo.Era como se se sentisse observado, e isso lhe dava um sentimento de que não fazia parte daquele céu naquele momento.Mas como todos diziam que era normal, aquietava-se e aos poucos as vozes iam embora.
Naquele dia em especial, sentiu tremenda vontade de ficar na poltrona durante o dia inteiro.Passou toda a manhã observando algumas crianças brincarem pelas nuvens sob a luz do sol, aquilo o acalmava bastante.A manhã foi em si mais tranquila do que a barulheira que normalmente tomava o céu todos os dias.Porém, aproximadamente às 2 da tarde, começou a ouvir um zunido forte e ininterrupto, juntamente com um barulho similar à pancadas que vibravam todas as nuvens.Ele se incomodou muito com aquilo, não sabia o que fazer, e aquele barulho ia se tornando cada vez mais insuportável, junto com as vozes surgindo cada vez mais alto e mais embaralhadas, deixando a sua mente completamente confusa.Pôs as mãos sobre os ouvidos, mas não adiantava, tentou pedir ajuda, mas as pessoas não ouviam nada do que ele ouvia, não entendiam o que ele queria dizer, pois todo aquele barulho distorceu também a sua fala, que se tornou tão débil e desconexa que não era possível compreendê-lo.Levantou-se desesperado, andando cambaleante na procura de um refúgio para aquele estado em que se encontrava, girou algumas vezes em pé, até perder o equilíbrio e ser abraçado pelas nuvens aos seus pés.Essa era uma vantagem em desmaiar no céu, você nunca teria uma fratura no crânio.Desmaiara, sim, mas continuava a enxergar tudo claramente.Um rosto feminino veio vê-lo, tocou-lhe a cabeça, e pôs o dedo tão fundo na sua garganta que pareceu fechar-lhe a traquéia e a glote, fazendo-o engasgar com o ar que estava retido em seus pulmões.Levantou subitamente e vomitou um líquido similar à uma pasta de dente azul e branca, e todas as vozes e o zunido foram interrompidos.
A moça que o fizera vomitar continuava a olhar para ele fixamente.Pediu desculpas, e começou a falar: "Desculpe-me, mas parece que houve um erro.Ainda não é a sua hora de vir para cá.O sofrimento causado com a sua partida da terra causou danos irreparáveis em algumas pessoas, e temos que mandá-lo de volta, ou haverão mais problemas"."Mandá-lo de volta", que irônico.Esteve no céu, e agora voltará á terra, como se nada tivesse acontecido.Não teve tempo de dizer nada, e mesmo que tivesse, de nada adiantaria.O zunido foi voltando aos poucos, as vozes aumentando, as nuvens tremendo e as pancadas intermináveis iam aumentando cada vez mais, até que no ápice do seu desespero, aquela moça deu-lhe uma pancada certeira na testa e desmaiou novamente, porém dessa vez tudo ficou preto, como num legítimo desmaio.
O tempo que passou naquele escuro são inexplicáveis.Não tinha noção de tempo, de espaço, não conseguia pensar em nada.Não teve medo, mas não teve coragem, não teve vontade de rir nem de chorar, não teve vontade de se mexer nem de ficar parado.Era como se não existisse mais, como se houvesse sido apagado.Sentiu, porém, num determinado momento, a luz voltando aos seus olhos, e eles se abrindo levemente, junto com todo o zunido e as vozes.As pancadas, porém, iam agora se afastando e se localizando no lado esquerdo do seu peito, constantemente.Abriu, enfim, os olhos.Era uma sala de hospital, e alguns jalecos brancos mantinham olhos fixos na sua pessoa, estava deitado numa cama desconfortável, e o zunido do eletrocardiograma preto e verde marcava o seu fio de vida, enquanto ouvia vozes de pessoas que ele não mais reconhecia.Um dos doutores falou com ele: "Boa tarde, senhor.O senhor acabou de acordar de um coma de oito meses.Não esperávamos a sua recuperação, mas felizmente você retornou.Como se sente?". Como se sentia? Como assim? O que havia acontecido? Subitamente acordou sem se recordar de coisa alguma, como se nunca tivesse vivido nada.Esse é um sentimento tão absurdo que as palavras não são capazes de definir exatamente.O mundo é feito de vida, e não há como definir alguém que viveu e não viveu! Sua cabeça estava tão atordoada, que esqueceu como falar, como andar, como comer, esqueceu tudo.Esqueceu como viver.
E a partir daquele dia, não pronunciou mais nenhuma palavra.Nunca mais se lembrou de nada, nem do céu nem da terra.Sentia como se todos estivessem fingindo uma grande mentira que ele não poderia saber, mas que um dia soube.Não tinha reações, pois não conseguia mais ter reações a nada.Vivia deitado, confrontando o mesmo teto branco, na tentativa de se lembrar o que havia acontecido, e o que todos tanto escondiam dele.Passou alguns dias deitado, até que numa terça-feira, às duas da tarde, uma das enfermeiras veio vê-lo na cama.Ao encostar perto do seu rosto, automaticamente reconheceu-a.Era a mesma moça que havia feito-o vomitar e o trouxe de volta ao mundo, lembrou-se dela, e aos poucos, foi como se uma luz se abrisse bem no meio da sua cabeça, penetrando nos seus olhos toda aquela informação que sempre pareceu estar na ponta da língua e dos dedos.Foi se lembrando de tudo, da poltrona, do zunido, das vozes, das pancadas, dos aspiradores de pó, das manhãs, das tardes, noites e madrugadas! Deu um grito e pulou da cama."Você me trouxe de volta! Eu não quero ficar aqui! Eu quero voltar! Voltar!" berrava e corria pelo quarto como um louco desvairado."Eu quero minha poltrona, quero as crianças, as harpas, os portões, tudo!".A enfermeira, coitada, nada compreendia, ligou para um hospício e mandou enfermeiros para buscar aquele homem que ficara subitamente louco.Alguns parentes o seguraram, enquanto tentava gritar aos céus que o levassem de volta, que não era justo, que viessem buscá-lo.
Amarraram-no numa camisa de força, porém gritou tanto, mordeu o enfermeiro duas vezes, criou tamanho caos que foi necessário também amordaçá-lo.Ninguém compreendia o que berrava pelos ares aquele sujeito, e foi impossível controlá-lo de maneira tranquila.Dentro da ambulância, porém, foi naturalmente se acalmando, como se houvesse algo dizendo que se acalmasse, e tudo ficaria bem.Convenceu com os olhos os enfermeiros, que tiraram a sua mordaça.Pediu para ver a rua pela janela, e seu pedido foi acatado.Aos poucos foi sentindo como se voltasse ao céu, sem conseguir explicar como nem por qual motivo, simplesmente sentia que tudo ia ficar bem.A ambulância virou uma esquina saindo da avenida principal, e as buzinas cessaram, fez-se um silêncio e só se ouvia o barulho do vento, dos passarinhos e das árvores balançando.Estava um pouco frio, mas o sol se pondo e o vento que entrava pela janela deixava um clima agradável dentro do carro.Finalmente, o carro parou, e ele desceu da ambulância.Um grande portão de ferro o esperava, que rangeu um pouco, abriu-se e puderam entrar.O chão era todo azulejado azul-turquesa e branco.
Logo ao entrar, viu um louco vestido de Napoleão gritando "Eu sou Napoleão Bonaparte!Deixem-me sair daqui!", e um homem de cabelos muito brancos e barba, vestido de jaleco branco o acalmava.Havia um senhor magro e velho que berrava a proximidade do apocalipse para toda a clínica, que parecia não se preocupar em ouvi-lo.Haviam muitas poltronas, todas ocupadas.Era óbvio que já tinha visto aquela cena antes.Numa enorme e serena satisfação, foi como se sua mente fosse se remontando aos poucos, desde o momento em que tomou a pancada na cabeça, até a restituição completa da sua memória, até o momento presente.Soltou uma alta gargalhada, se aproximou do balcão onde uma moça exatamente idêntica aquela no céu perguntou-lhe seu nome, e lhe explicou o porque de ter ido parar ali.Nunca havia ficado tão feliz e tão senhor da sua vida como naquele momento.Havia feito um acordo com o céu.Ao entrar pela primeira porta da clínica viu, num canto da sala, aquela mesma velha poltrona, que agora ficava de frente para uma enorme janela, onde era possível ver o sol todas as manhãs.Sentou-se ali com a felicidade de uma criança, e contam que até hoje, ele nunca saiu de lá.

Moral da história: O hospício é o céu dos homens.É preciso ser louco e entender a sua vida para lá chegar.

Boa Noite.

Quanticum.

Thursday, November 08, 2007

O mundo do homem, o homem do mundo.

Boa tarde.

O tempo vai passando e eu acho vou me esquecendo de propósito daqui, pra poder me lembrar depois e escrever de novo.

Ás vezes fico impressionado com a maneira que a vida corre.Muitas vezes corre de uma maneira retilínea pelos fatos, como um avião voando baixo e reto com destino conhecido, e algumas vezes acontecem coisas tão loucas e deslocadas da retórica da vida e da rotina que se segue, que parece que estamos beirando o choque com a primeira montanha alta que aparecer.O mundo vive numa redoma individual de proteção e rotina, ditada pelo desejo geral de evolução e desenvolvimento baseado no consumo, no aprendizado, na conquista dos desejos, ou na busca de um caminho para se chegar aos seus desejos, e quando acontecem essas transgressões, é como uma pedra atirada, estilhaçando todo o vidro que nos protege.Eu, particularmente, não critico a rotina, o desejo de ascensão social e a busca de um objetivo concreto, muito pelo contrário, acho que o aprendizado existe dentro das pequenas coisas com as quais nós interagimos no nosso dia-a-dia.É preciso viver para filosofar, e não filosofar para viver.
Me pergunto então: O que serão essas transgressões na nossa rotina? São fruto do desejo geral e da continuidade necessária do mundo, ou são a auto-conscientização que se faz necessária, e que é conduzida pela nossa própria mente sem que seja percebida? Não há como negar que os fatos existentes na vida são fruto consequente dos nossos atos.Se os nossos atos não condizem com a conduta que devemos(na nossa própria consciência) seguir, será que nós mesmos nos conduzimos às transgressões?Isso seria dizer que nós nos punimos sem saber que estamos nos punindo.
Existem facetas da mente desconhecidas pelo ser humano, e eu acredito que somos capazes de apenas tangenciar o círculo da nossa consciência.O maciço que a preenche com os nossos desejos, nossas ações passadas que já não nos lembramos, nossos erros e acertos, só é reconhecido quando se reflete sobre o caminho que se está seguindo.Atualmente, o momento onde se reflete sobre a vida é exatamente o momento do erro, o momento do desespero, do choro, da busca de uma razão para a desilusão e para o sofrimento.O erro implica, muitas vezes, no mergulho para dentro de si mesmo, para a essência mais profunda do ser, onde moram os reais sentimentos que se tem sobre as pessoas, os acontecimentos e as diversas interações do ser humano com o mundo, que tendemos a esconder, se não encontramos respaldo ou aceitação das outras pessoas, e consequentemente trocamos por valores mediocrizados que nem sempre condizem com o que de fato pensamos.
A conclusão a que posso chegar é que a humanidade reflete pouco.Reflete pouco sobre os seus erros, sobre seus acertos, sobre as consequências e sobre os seus atos.As resultantes do espaço podem nos construir e nos destruir, quebrando com valores anteriores e criando novos pensamentos, ás vezes criando o medo de se mostrar e a consequente auto-arquetipização mentirosa do que de fato somos(ou queremos e podemos ser).É complicado enfrentar as transgressões da nossa redoma, principalmente no período do adultecer, em que se percebe as responsabilidades que se mostrarão à frente.É preciso parar um momento e ouvir a sua própria respiração, se ouvir e pensar no que causa a angústia, e nos valores que estão sendo atropelados, escondidos e substituídos.
Não há acaso nas alegrias e tristezas humanas.A movimentação do mundo e das mentes que conduzem as mudanças a cada segundo são matemáticas, e cada segundo é uma nova variante que modifica o espaço à sua maneira e ao seu tempo.A rotina e o sentimento de estagnação que ás vezes sentimos pode significar, na minha opinião, que estamos de olhos fechados para o que realmente está acontecendo no subsolo das nossas mentes.É impossível que uma mente que pense ininterruptamente por 24 horas completas todos os dias esteja parada, sem produzir coisa alguma.
O que quero dizer é que as pessoas são um enorme conjunto de pensamentos, ações, reações e sentimentos, e que nós devemos estar sempre nos observando.É possível ver como conseguimos definir e enxergar as outras pessoas de maneira melhor do que conseguimos nos enxergar e nos modificar.Viver significa quebrar os paradigmas, e só dessa maneira é possível nos mudar e mudar o espaço que nos rodeia.A redoma em que vivemos necessita de transgressões.O aprendizado é baseado na mudança, destrói-se um pensamento para a construção de outro.A filosofia nada mais é do que a definição dos cacos que sobram das mudanças e das feridas que elas podem deixar ou curar.

Boa Noite.

Quanticum.

Friday, August 17, 2007

Sem explicação.

Boa noite.

Minha cabeça anda completamente cheia, mas de um tema só.Vou tentar colocar ele nas palavras.


Tem determinadas coisas que acontecem nas nossas vidas que não tem explicação.Sentimentos que temos, palavras que dizemos, sorrisos que ganhamos e damos, são todas coisas inexplicáveis sobre as relações humanas, tão disfarçadamente casuais.Não preciso dizer que na minha opinião, essas coisas que sentimos são todas energias que transitam numa vibração em que nos encaixamos quase que perfeitamente, e por isso nos sentimos tão bem(ou tão mal) quando as experimentamos.Algumas coisas servem de exemplo para criar esses sentimentos que não sabemos definir direito, e que tentamos explicar uns pros outros, mas sempre desistimos ou não somos compreendidos.A música, a literatura, o cinema, as lágrimas, os sorrisos, a paixão, e o mais importante de todos, o amor.
Outro dia eu estava discutindo sobre a criação dos robôs, e o quão perfeitos a nossa tecnologia será capaz de fazê-los ser.Se um robô conseguir sentir o que eu sinto quando ouço o solo de guitarra de 'Sultans of Swing' do Dire Straits, ou a voz de Robert Johnson cantando 'Sweet Home Chicago', vou aplaudir de pé, pois acredito que esses sentimentos são muito individuais, e muito difíceis de serem artificializados, apesar de eu acreditar muito na capacidade de criação humana.Ver dois robôs apaixonados seria algo realmente impressionante, mas sinceramente eu não acredito que um objeto de metal consiga aguentar tantos pensamentos, tanto calor no coração, tanto congestionamento de sentimentos, tanta vontade de viver assim.
A beleza de todos esses sentimentos é exatamente o fato de serem inexplicáveis.É o mistério que cada pessoa carrega dentro de si, inviolável e protegido a sete chaves pela sua própria mente, sem que muitas vezes você saiba, conscientemente, que está se protegendo.Eu penso que nós vivemos muito para dentro de nós mesmos, sem perceber..os sentimentos são os nossos vícios, as nossas drogas diárias, que são aceitas pela sociedade, afinal, eu não sei quanto a vocês, mas eu não vivo um dia sem música, sem um abraço ou sem um sorriso de alguém.
Nos últimos dias, eu venho me sentindo mais quente, mais alegre, mais vivo.Estou sentindo o sentir, de fato, e descobrindo que não consigo explicá-lo.As palavras não alcançam a perfeição de um sentimento..como escritor eu deveria estar decepcionado, mas não estou, pois acima de alguém que escreve, sou um alguém que sente, e sente muita coisa...fico muito feliz em poder sentir que estou sentindo.No fundo, só consigo entender que sentir é inexplicável, e toda palavra que tente definir o que é o sentimento, será só uma definição seca num dicionário, ou um poema de alguém apaixonado, que lhe fará dar um sorriso ou uma lágrima,mas que no fundo não compreende o real sentido do que poeta sente, só acredita ser belo, porque já se sentiu parecido alguma vez na sua vida.O sentido de estar apaixonado por tudo se tornou uma coisa muito clara quando eu entendi que nada pode definir toda a minha paixão pelo mundo e pelas pessoas.Por um lado, fico muito frustrado por não poder fazer as pessoas compreenderem isso, mas me sinto muito bem ao saber que os outros sentem o que sentem, e são muito felizes assim.
Só posso dizer que não descartem os seus sentimentos.Se você ama uma pessoa, diga isso a ela, isso vai acalmar o seu coração, e com certeza fará o de alguém sorrir, se você quer viver tudo, sinta tudo, sem medo de querer todas as coisas!O mundo não te espera, e o tempo nunca para, você é quem tem de correr atrás dele, o mais rápido que puder, e de preferência com o coração muito aberto pra tudo o que você vai sentir.

Com toda a sinceridade que eu podia ter num texto.

Boa noite.

Quanticum.

Sunday, August 12, 2007

1...2...3...

Boa Noite.
Depois de tanto tempo sem postar, tomara que esse texto seja do agrado :)


9.482.400.Esse é aproximadamente o número de minutos que eu vivi até hoje, contando do começo desse texto.Parece pouco, né?Quero dizer, é muito inquietante saber que todo o seu tempo de vida pode ser contado dessa maneira, em números claros, concretos e que são do conhecimento de todas as pessoas, afinal, hoje em dia, os algarismos indo-arábicos são conhecidos praticamente pelo mundo inteiro, e não mudam quase nada de país para país.Sinto-me invadido, ao saber que qualquer pessoa desse mundo pode saber exatamente quanto tempo eu vivi.9.428.400 é, a partir do momento em que comecei esse texto, até os próximos 60 segundos seguintes, o meu número.Estarei eu desperdiçando-o ao escrever esse texto, ou contemplando-o de uma maneira como nunca em meus 9.428.400 minutos anteriores eu já havia feito?
Os números são realmente coisas fantásticas.Existe um fator enclausurador na lógica dos números, que eu acredito que muitas pessoas já devem ter notado.Você pode dividir qualquer coisa na metade, até o infinito, de acordo com os números.Sempre vai haver um novo número a seguir, nunca vai chegar a zero absoluto(dentro da esfera geral dos números, é claro).Se começarmos a pensar nisso, vamos divindo até o átomo, partículas subatômicas, e vamos chegar á energia.Onde fica a energia dentro dos números? Qual a potência pra marcar o tamanho, o peso, a massa da energia? Pasmem, os números, nossas belas criações, conseguem marcá-las.
Escrevendo esse texto, me convenci de que os números são o nosso passaporte pra novas descobertas, são a nossa chave única, que de vez em quando abre uma porta, sem querer, no infinito.Nossos pensamentos são feitos por energia, as idéias são energias, organizadas perfeitamente, em alguma lógica desconhecida, porém calculável.Tudo é calculável.Nossos números tem muito poder sobre nós, e precisamos compreender isso.
Os números, só pra finalizar o texto, são os fatores que nos mantém vivendo em organização.No fundo, toda a nossa sociedade é baseada em números.Calendários, relógios, aniversários, natais, equações, construções, desenhos, projetos..tudo isso foi pensado por nós, humanos, sobre uma base lógica, que é a base dos números.Eu pensei mais cedo, nós só temos noção de determinadas coisas que vão vir a ser muito importantes na nossa vida, se pensarmos nela pela primeira vez, e ainda bem que eu consegui pensar nisso logo.Ah, e só pra constatar, agora eu tenho 9.482.453 minutos de vida.

Boa noite

Quanticum.

Tuesday, May 01, 2007

Sobre sentir-se próximo.

Boa Noite!

Nos últimos dias aconteceram algumas coisas bem interessantes, vou relatar uma das minhas reflexões.

Há algum tempo atrás eu conversei com um amigo, numa festa, sobre os nossos pensamentos, e reflexões sobre o mundo, e a interação entre as pessoas.Ele me falou que pensava que as pessoas trocavam algum tipo de "energia" ou algo assim, e dizia serem átomos.Ou seja,se você conversa, toca, abraça, sente algo por alguém, você vai "passar" os seus "átomos" pra essa pessoa, e somos todos são contaminados pelos átomos, pelas idéias dos outros.Nesse mundo nós pensamos que somos, dentro das nossas cabeças, independentes em pensamento, coisa que estamos longe de ser.Todos somos seres influenciáveis, e influenciados, tudo que se pensa, já passou por alguma cabeça que pensa como você.

Nesse mesmo dia, após ouvir o que ele tinha pra dizer, eu falei pra ele o que eu pensava, e é aqui que começa o meu texto:

O que esse amigo me disse sobre os tais "átomos", eu prefiro chamar de vibração.A vibração, a energia de cada um, se propaga como o som, o odor, até mesmo a luz, afinal, são todos ondas, e ondas se propagam em vibrações.Penso que existem esferas de pensamentos entre as pessoas, e sentir-se próximo de alguém por se julgar parecido, quer dizer vibrar numa esfera próxima a dele.Ter opiniões similares, e ver aquele sorriso que nós damos quando ouvimos algo em que concordamos, é instigante.O ser humano tem a peculiar característica de gostar de ouvir o que pensa da boca de outras pessoas.Talvez seja um receio de ficar sozinho, e pensar sozinho.

Alguém já parou pra pensar porque a comida nos atrai tanto?Porque o cheiro das coisas, a cor de certos objetos, a voz de alguém, a maneira como a pessoa fala, pode nos atrair de uma maneira quase incontrolável?Não podemos esquecer que os grandes poetas, escritores, pensadores, e até mesmo ditadores desse mundo convenceram muita gente com simples e meras...palavras.

Não sei se até esse ponto é posssível compreender exatamente o que quero dizer, mas penso que a atração que temos uns pelos outros é a mesma atração que temos ao fazer algo que gostamos, sentir um cheiro bom, um gosto bom.A amizade, o amor, são todos sentimentos intensos que mexem com o nosso cérebro, fazendo com que se perca a capacidade de se concentrar em outra coisa senão aquele sentimento.Quem já ficou apaixonado sabe o que eu quero dizer, aquele pensamento interminável, as horas que se passam pensando em alguém antes de dormir, o coração batendo forte, o corpo quente, tudo isso.O mundo é repleto de sentimentos, em todas as coisas que existem e se movem, e nós, enquanto atores desse mundo complexo, vamos sentindo tudo, experimentando, sorrindo, chorando, vivendo.

Quando se conversa com alguém, existe uma troca de vibração tão intensa, que em algum segundo de conversa, sem mais nem menos, alguém pode se apaixonar.Ouvir palavras, sentir gestos que se querem ouvir e sentir, faz com que o nosso corpo inteiro se entregue a esse sentimento, e não se deseje nada mais do que isso.Ouvindo música, conversando, comendo, observando, estamos nos abrindo pra esse sentimentos, pra essas vibrações.

Pensando nisso numa escala ainda maior, o nosso mundo inteiro está unido por vibração,que não se refere somente a palavras que alguém fala, mas a músicas que se ouvem, a cores que se vêem, a odores que se sentem, a imagens que são apreciadas.É tudo tão claro! A pintura atrai, o surrealismo de Dalí me fascina, a música atrai, no teclado penetrante do Doors , a voz atrai, na intensidade do grave de Jim Morrison, a palavra atrai, nos escritos apaixonados e observantes de Pessoa, a comida cheirosa, o colchão confortável, tudo!Porque existem pessoas que preferem o azul, e outras que preferem verde?Porque há pessoas que não suportam cheiro de gelol, e outras que adoram?Porque alguns gostam de pagode, axé, outros de metal, outros de rock'n'roll, e por aí vamos?

Somos todos diferentes, e somos belos por isso.Somos essencialmente humanos.O mundo é feito de uma cadeia de sentimentos em que estamos mergulhados, tentando ver quem aprecia mais um ao outro, e é incrível poder sentir isso.Aquela pessoa que faz o seu coração bater tão fortemente pode ter o cheiro que você gosta, usar a cor que você aprecia, ou fazer gestos que são belos na sua concepção, e o melhor de tudo: você pode nem saber disso,e simplesmente..gostar.

Toda essa atração, o amor, a amizade, o abraço, uma fala que agrada, tudo é vibração, como disse no início do texto.Tudo chega aos seus ouvidos, ao seu cérebro, e você vai saber se te agrada ou não.Sentir-se próximo, atraído a alguém, é algo que me fascina cada vez mais, pois mostra o quanto esse mundo enorme e complexo pode ser tão concreto, e pode ser reduzido a apenas um órgão, que cabe na palma da mão: O coração.

Quem entender o que quero dizer vai sentir no seu coração o que eu sinto, e vai saber o quão bom é, e pode ser.Quem não entender, um dia vai sentir o que quero dizer, e talvez perceber.Assim espero.

Boa Noite.

Quanticum.

Saturday, April 14, 2007

Ser vivo?

Boa Noite.

Depois de tanto tempo sem postar, a minha reflexão mais recente.


Antes de expor a minha opinião sobre o tema, eu gostaria que você, leitor, parasse pra pensar por alguns minutos nas coisas que você tem, que você usa, ingere, e gosta.Do que são feitas suas roupas?Seus objetos, acessórios, sua mesa, sua cama, seu caderno, seu computador, sua tevê, seu aparelho de som, seu iPOD, seus cds, seus dvds, e todas as coisas que você tem?

Suas roupas são de algodão ou poliéster.Sua mesa provavelmente é de madeira.Seu computador, sua tevê e seu aparelho de som de plástico e metal, entre outras coisas.Seu iPOD, de plástico.Seu caderno, papel.Sua cama de madeira ou metal, colchão de algodão ou alguma material do tipo,entre outras muitas coisas.

O homem e a natureza sempre viveram uma relação peculiar desde o começo dos tempos.Para sobreviver, o homem sempre necessitou da natureza, e até hoje necessita.Toda criação, construção, idéia, se baseia, de algum modo, na natureza.Por mais moderno que você seja, por mais novas e tecnologicamente impressionantes suas coisas sejam, elas ainda são feitas de matérias primas naturais.O prato mais caro do restaurante francês mais famoso usa comida de animais, temperos naturais, ervas, condimentos naturais.

A questão é que não existe o "anatural".Toda criação concreta é baseada em materiais da natureza.É um grande paradigma, não?O grande homem, senhor da razão e da verdade, com cajado em punho, sentado no seu trono de Ser Humano Racional e Evoluído, tem que baixar a cabeça á natureza, que oferece, de bom grado, todo o material para a criação.É como se a natureza "brincasse" conosco, compreendem?Enquanto nós criamos e observamos orgulhosos tudo que fizemos, a natureza sorri, esperando o momento em que todos possam entender que a mesma é quem nos fez.

E eis que surge a grande ironia: O próprio homem é parte e criação da natureza.É inútil tentar correr dessa verdade.É inútil tentar vencer a natureza, pois com a sua destruição, destrói-se também o próprio homem.Me vejo confuso ao pensar nisso, e acredito que você também, leitor.De que adianta acabar com os recursos pra criar mais materiais de consumo, pois se todos nós morrermos, não haverá ninguém pra consumir, nem pra gastar o dinheiro?

Não se confudam, eu não apóio o desuso da natureza, nem uma restrição total da produção mundial, ou erradicação da produção e do comércio.Pelo contrário, acho que a engrenagem deve continuar funcionando.Se você para pra pensar, a minha opinião não é contraditória, pois para fazer com que o mundo continue funcionando por um bom tempo, o homem deve aprender a equilibrar sua produção com o ritmo da natureza.O grande problema é a imposição de um ritmo que não é natural, ainda mais pra um organismo tão bem organizado e harmonioso como a natureza.Ao contrário do que muitos pensam, isso pode, sim, ser feito.

A terra é, ainda, abundante em muitos recursos, principalmente os renováveis, obviamente.Se houver um equilíbrio do ritmo produtivo e uma conscientização ao menos emergencial, o mundo pode durar muito mais.A natureza é, de fato, invencível, e ás vezes parece até mesmo ser compreensiva com o seu filho mais novo, o homem.Para ficar vivo, basta-se ser um ser vivo.

Boa Noite.

Quanticum.

Thursday, March 22, 2007

A Caneta.

Boa Noite.

Nas aulas de redação, uma boa divagação vai bem, não?


Imagine a cena: Um juiz, prestes a decidir um julgamento importante, precisa assinar o papel para confirmar a sentença, que mudará vidas.Todos esperam, algumas chorando, outros somente ansiosos pela decisão, para poder gritar "viva!" ou se consolarem num ombro amigo, lamentarem, decepcionados.A tensão cresce a cada segundo em que o juiz lê, mentalmente, palavra por palavra, a sentença.Quando alguma ação decisiva se mostra, todos viram os olhos para o juiz.A cena é, no mínimo, estranha.O juiz tateia os bolsos, com certa vergonha no rosto, examina a mesa, e todos os objetos próximos, e após alguns segundos, desiste, falando ao júri: "Estou sem caneta.Alguém pode me trazer uma caneta, por favor?"Todos sorriem levemente, afinal, não é todo dia que um juiz é pego assim, de surpresa.Um membro do júri entrega a tal caneta, e o julgamento pode continuar.

Fatos como esse demonstram a importância desse objeto cotidiano, e a nossa "dependência psicológica" em relação á mesma.Mesmo no séxulo XXI, era digital virtualesca, a caneta ainda é, e muito, utilizada.Me perdoem os internautas de plantão, sou aficcionado por novidades, mas fico com os saudosistas nesse tópico.Nenhuma mensagem por internet tem a confiança de uma assinatura feita á caneta, com a mão do assinante, e de mais ninguém.

É de merecida responsabilidade, afinal, a caneta esteve presente em quase todas as grandes decisões, acordos, eventos, movimentos e reuniões.Já confirmou acordos de paz ou de guerra, já salvou e acabou com vidas, já decidiu todo tipo de movimentação desse mundo.A redação definitiva do vestibular é feita a caneta, a marcação no gabarito, toda assinatura de casamento e divórcio, compra e venda de imóveis, de produtos, de empresas, enfim, tudo é corroborado a caneta.

Talvez toda essa bagagem cultural e histórica dê á caneta esse ar de confirmação definitiva, sem caminho de volta, essa sensação de imutabilidade.Uma caneta pode decidir coisas grandiosas, a depender da mão que a segura.Devo explicar que compreendo que a mão que a assina, a cabeça que pensa na decisão, importa muito mais do que a caneta.Mas é exatamente nesse ponto em que a minha tese se confirma.Se mesmo as mentes mais geniais, estratégicas, loucas e importantes decidem tudo a caneta, isso não confirmaria a sua importância? Qualquer gênio pode querer confiança, mas muito raramente sem um contrato.Os grandes músicos assinam contratos, os presidentes, os reis, todos.

Os contrários podem citar a tinta corretiva, mas não posso, de maneira alguma, imaginar o presidente Kennedy passando corretivo em sua assinatura, antes de confirmar o lançamento da bomba atômica, ou até mesmo Hitler, na calada da noite, passando corretivo em sua assinatura do tratado de não-agressão com a URSS.Os homens passam, sim, por cima de assinaturas, não me engano.Mas, ao fazê-lo, perde toda a confiança, toda a credibilidade, o que geralmente não é favorável.Hitler talvez seja um grande exemplo desse fato.Ao passar por cima de uma assinatura, de um contrato, torna-se um ser repugnante.A confiança é uma virtude pela qual o homem preza de maneira universal.

A sociedade criou a caneta, e a mesma tornou-se sinal de definitividade.A tinta é como o sangue fora do corpo.É marca que não sai facilmente, uma assinatura.A caneta representa o medo de errar, já que não existe volta.A caneta é a confiança desconfiada.

Eu, particularmente, prefiro o lápis.Não por insegurança ou medo de errar, mas pelo fato de achar mais bonita a cor do grafite.O azul da caneta não me atina para a vontade de escrever.Comecei esse texto exatamente pela falta de uma ponta para a lapiseira, e o escrevo a caneta, sem medo de errar, mas com um leve receio de desrespeitar esse ícone de toda decisão, a caneta.

Boa Noite.

Quanticum.

Sunday, February 25, 2007

O que se quer?

Boa Tarde.

Mais uma reflexão momentânea..

Ás vezes eu penso que as pessoas deviam fazer mais o que querem fazer, o que gostam de fazer.Eu li Jim Morrison dizer numa entrevista, algumas coisas bem interessantes.No mundo em que vivemos, muitas pessoas, cada vez mais, "trocam" seus desejos, seus anseios, por coisas já existentes, repetidas no mundo, e comuns á maioria das pessoas.A questão é: elas não sabem disso, ou não imaginam?Eu acredito que existe um desejo, uma vontade de criar, e viver novas coisas, em cada pessoa.Mas a sociedade em que vivemos se encontra num estado tão veloz e imediato de produção, que acaba transformando a criação e a criatura em algo descartável

O mundo se torna cada vez mais cheio de obrigações, de imposições, por todos os lados.Se todos nós fossemos livres para criar o mundo da maneira que quiséssemos, tudo seria diferente.Desde o começo dos tempos, a sociedade toma um rumo que faz com que alguns homens se tornem protagonistas do mundo, e muitos outros sejam meros figurantes, coadjuvantes.Muitos dos problemas pelos quais sofremos, falta de dinheiro, depressão, insatisfação, são causados pelo nosso choque com as imposições que o mundo coloca sobre as nossas costas.Eu não prego a completa separação homem x mundo, mas faço um apelo á todas as pessoas, que se proponham a fazer o que querem.E não me refiro a ter dinheiro, boa posição social, bom emprego e coisas do gênero, pois elas só se referem aos desejos que são cegamente e despropositalmente impostos pelas pessoas e pela sociedade em geral, mas sim tentar seguir caminhos que os satisfaçam, os façam feliz.

Eu acredito que as pessoas deveriam tentar se observar, profundamente.E ao fazer isso, possam perceber quem são de verdade, o que querem, e o rumo que querem seguir.A sociedade sempre tenta ir contra essas pessoas, devido á tendência natural que segue, não culpo as pessoas pela tristeza das outras.O mundo em que vivemos é povoado por pessoas, porque nós tentamos nos destruir de maneira tão irracional?As guerras são um exemplo diso.Um país precisa vender armas pra ganhar dinheiro, um país compra armas pra entrar em guerra com outro, um país acaba destruído, o outro provavelmente também sofrerá, não há ganho nenhum além de dinheiro e mais mortes, mais mães chorando pela morte de seus filhos.É a ânsia de dominação, que vem impressa nas pessoas desde o começo dos tempos.É irracional tentar correr contra o meio, pois nunca se sobrevive.Devemos aprender a lidar com as coisas a nosso favor, com a noção da nossa missão enquanto pessoas na terra, pra que possamos entender melhor quem somos.

Não estou atacando nenhuma das partes, pois nessa confusão ninguém tem culpa.É uma questão muito mais complicada do que simplesmente culpar alguém ou alguma coisa pela situação do mundo.A minha opinião, é que hoje em dia refletimos muito pouco sobre o mundo em que vivemos e as pessoas que nós somos.Não há nada de errado em querer ser alguém na vida, ganhar dinheiro ou ter boa posição social.O que me decepciona é ver que as pessoas se contentam com coisas que eu penso não serem seus desejos.Devemos correr atrás, lutar pelo que nos faz felizes, e só podemos fazer isso nos conhecendo melhor que qualquer outra coisa ou pessoa.

Mas, isso é só a minha opinião.

Quanticum.

Wednesday, February 21, 2007

O Zé.

Bom Dia.

Um diálogo interessante, mais um dos muitos Zés do nosso mundo.

- Alô?
- Hotel Cinco Estrelas, boa tarde.
- Alô, oi, eu queria falar com o Zé.
- Com o Zé? Qual Zé, senhor?
- Como qual Zé? É só chamar o Zé que ele vem!
- Escute, meu senhor, eu acho que o senhor ligou para o lugar errado.
- Não, mas esse foi o número que o Zé me deu!
- Mas isso é um hotel!
- Ah, um hotel.E de onde é esse tal hotel?
- Nós temos como sede a cidade de São Paulo.
- Tem o que aonde?
- É em São Paulo, senhor.
- Ah, pois é! O zé tá em São Paulo, ele foi de pau de arara.
- Senhor, eu preciso desocupar o telefone.Vou desligar, está bem?
- Não! Não tá bem não! Chama o Zé que eu desligo.
- Mas senhor, não tem nenhum Zé aqui!
- Tem sim que eu sei, senão ele não tinha dado esse número.
- Você não está entendendo.Isso aqui é um hotel, eu não posso chamar ninguém!
- Mas como não pode? É só gritar pro Zé!
- ... Senhor, eu preciso desligar.
- Se você desligar eu continuo ligando.
- Olha, eu estou começando a perder a paciência.
- Mas quem tá perdendo a paciência sou eu, que não consegue falar com o Zé.
- ...
- Eu não vejo qual é o problema, o Zé tá aí, eu sei.
- O senhor não compreende.
- Olha, chega dessa conversa de eu não compreendo, e chama o Zé logo.
- ... está bem. Ô Zé, é aquele cara chato de novo!Tentei fazer ele desligar, mas é impossível!

Sunday, February 11, 2007

Luto.

Boa Tarde.

Eu estava lendo a Veja dessa semana, falando sobre o João Hélio, garoto arrastado pelas ruas do Rio, amarrado ao cinto de segurança, durante um assalto na rua.Como sempre, me veio a vontade de despejar essa informaçao, essa opinião.

O acontecimento com esse garoto mostra como um estado pode se desestabilizar tao facilmente.Uma instituiçao tao segura, tao estável, pode cair em mãos erradas a qualquer momento.João Hélio é mais uma prova da bipolarização do caos no Rio.Quando alguém, que pertence a classe média, com condições de "sobrevivencia social" mais alta, é atingido, imediatamente a repercussão entra em cena, de maneira extremamente forte.É um absurdo que aconteçam coisas assim, de maneira tao leviana, tao banal.

Mas devemos virar os nossos olhos para uma face da situação que é de difícil aceitação.Como incluir, nesse absurdo, as pessoas que estão, muitas vezes, sofrendo mais na pele?As empregadas domésticas que morrem voltando do trabalho, os meninos que morrem no morro, voltando da escola, sem falar nos meninos que "trabalham" para o tráfico, que são vítimas físicas e psicológicas.É difícil ficar triste por todas essas pessoas?É uma questao de saber igualar as coisas.Eu não acho que a morte de João Hélio deva ser vista com menor importancia, mas acredito que é imprescindível ter noção do tamanho do problema.Será que devemos continuar sem nos mexer, de alguma forma, se expressar pra tentar fazer alguma coisa?Quantos garotos de classe média, e de classe baixa vão ter que morrer pra isso?Eu acho que o alarde da mídia é importante, necessário, sim.Mas acho que a voz que tem de trabalhar para que isso mude, quem tem que reinvindicar uma atitude, somos nós, as pessoas.Afinal, as hierarquias política e sociais se mostram cada vez mais incapazes, e submissas ao sistema que se implantou no Rio.Eu não moro no Rio, e por isso a situação seja diferente, já que eu me encontro fora disso.Mas é absurda não somente a situação do Estado carioca, mas a morte de um garoto.Que poderia ter sido em Salvador, no Rio, em São Paulo, até mesmo em Manaus, teria sido o filho de alguém, o irmão de alguém, o amigo de alguém.E é isso que queremos evitar, mais mortes como a de João Hélio.Me recuso a fechar os olhos para isso, quando um dia pode ser o meu primo, o meu tio, a minha amiga, que mora no rio, a pessoa que aparece na capa da Veja.

Eu adoro o meu país, não sou um nacionalista, mas tenho afeição pelas cores, pelas belezas e pelas pessoas do Brasil.Quando acontece algo tão brutal como aconteceu, me vejo perdido sem saber quem é o culpado.As pessoas, ou o sistema onde nós vivemos.Me vejo ainda mais perdido ao saber que não existe culpado, existem culpados, o plural mais inconsequente que poderia existir.É importante que nós cuidemos dessa situação, ou pode ser o nosso filho que morra dessa maneira, ou de maneira pior.

Quanticum.

Tuesday, January 30, 2007

Por um mundo mais alegre.

Boa Noite.

Uma pequena narrativa, só por inspiração mesmo.

Uma criança rabisca num papel, sentada, no quintal de uma casa.Uma casa grande, 4 quartos, cozinha, piscina e todas as besteiras que as crianças gostam.Uma senhora de cabelos grisalhos, senta na cadeira de balanço e observa a bela criança, sentada na grama, concentrada naquele pedaço de papel.Existe uma concentração tão grande naqueles olhos, naquele papel, que parece que a qualquer momento, os dois vão sair voando, planando pelos ares, rasbicando os céus, com desenhos coloridos e disformes, de cabeças grandes e pernas finas.Os cabelos louros e cacheados brilham junto com o sol, como se conversassem.O que essa criança pensa?O que será que existe em sua mente, no que será que pensa?Nesse mundo em que nós vivemos, em que pensamos tanto, em tantas coisas num mesmo segundo, é impressionante ver um pequeno ser, pensando em apenas fazer o seu desenho, o seu rabisco, ele significando algo ou não, sem se preocupar em ganhar dinheiro, chegar em casa em tempo para o jantar, acordar cedo no outro dia ou marcar algo pra fazer á noite, existe apenas ela, e o desenho.

A senhora começa a pensar no seu tempo de criança.Nos seus desenhos, seus rabiscos, seus pensamentos.O pensamento a carrega para diversas visões do mundo que a rodeava, e que a rodeia.Ela consegue se ver, sentada no jardim de sua casa, ainda pequena,de cabelos castanhos, nos ombros, e um sorriso no rosto.Enquanto faz o seu desenho, coloca a sua mente de menina no papel, enquanto sua mãe a observa, tricotando, sentada numa cadeira.Um cachorro está deitado no chão, observando os seus movimentos, de olhos preguiçosos.Enquanto observa aquela cena, a senhora pensa em como era bom ser criança, como foi bom ter vivido tudo isso, como a vida, de fato, é boa.Voltando para a cena, ela se vê andando até sua mãe, com o papel, falando "olha mamãe, o que eu desenhei, olha!".No papel havia uma desenho da forma de sua mão, pintada em vermelho vivo, com tinta.Sua mãe observa o desenho e sorri, enquanto a menina alegre faz carinho no cachorro, correndo pelo jardim e rindo, aquele sorriso que apenas as crianças sabem dar, e que derrete qualquer coração, arranca qualquer sorriso.

Nesse momento, a velha senhora abre seus olhos.Está sentada em sua cadeira, foi tudo um sonho.Não um sonho, foi uma visão, e que visão.Ela observa de novo o seu quintal, e percebe que a menina não está mais ali, desenhando.Ao se virar para procurá-la, a vê no portão, fazendo carinho num cachorro, de pêlo marrom-claro."Vovó, você acordou?Olha só esse cachorrinho, que bonito!"- disse a menina.A senhora sorriu, pensou no cachorro que havia visto enquanto dormia, no quintal, até que os dois eram parecidos."Sim, é muito bonito!" - disse a senhora.A menina trouxe o cachorro para dentro do quintal, pegou um pedaço de papel e mostrou-o á sua avó, sorrindo.Uma lágrima desceu pelo seu rosto.O desenho da menina era uma forma de sua mão, pintada em tinta azul.A menina, ao ver sua avó chorando, sorriu e foi ao quintal correr com o cachorro.

"Ora, se todos somos pessoas, se todos somos ciclos, todos somos um pouco experientes, um pouco inocentes, somos todos crianças, e agimos como tal."
Talvez seja a hora de melar as mãos e pintar um mundo mais alegre, não?

Até.

Quanticum.

Friday, January 19, 2007

A Clockwork Orange - Homem x Mente.

Bom dia.

Acabei de assistir Laranja Mecânica, do Stanley Kubrick.Existem considerações tão fantásticas no filme, sobre o poder da mente e a essência humana, que eu precisei vir escrever aqui, no blog.

O filme conta a história de um jovem, que transita em duas situações: Na primeira, é um jovem violento, psicótico, e ao mesmo tempo inteligente, digamos, esperto. Na segunda, um jovem apático, fraco, á beira de um ataque fatal ao menor sinal de violência.Tudo isso por causa da perda de sua selvageria, sua loucura, sua condição natural de ser humano animal.

O que o homem possui, que pode ser maior do que os outros animais, digo, qual o diferencial?Os homens não podem voar, não tem a melhor visão do reino animal, não se locomovem muito rapidamente, não tem brânquias, não tem garras.Os únicos diferenciais do homem são a capacidade de criar, e o sentimento de medo que pode causar em outros animais, ou até mesmo no próprio homem.Nós podemos ser os mais rápidos, os mais fortes, os mais temidos, criando, ou matando.

Quando esse diferencial é tirado de Alex, o mesmo se torna um homem em branco.Seu instinto, sua essência violenta enquanto homem, era o que fazia com que ele fosse, de fato, um homem.O cérebro sofre, no filme, uma descarga tão violenta de informações, de medos, e de imagens estranhas, que entra em estado de congestão, causando em Alex náuseas, enjôos, sempre que se referem aquilo que instiga o seu instinto humano.O cérebro bloqueia a informação com essa dor interminável, no momento em que ela é acionada.Laranja Mecânica mostra a briga do homem contra o seu próprio cérebro.Uma luta impossível, interminável, e extremamente dolorosa.

Talvez o homem não seja evoluído, e talvez nunca poderá ser tão evoluído ao ponto de perder seus instintos, ou até mesmo conseguir sobreviver da maneira que Alex sobrevive.Laranja Mecânica mostra também o quanto o ser humano pode ser um animal primitivo, no momento em que sua proteção, seja ela a violência ou qualquer outro sentimento é retirado do mesmo.É uma reflexão profunda sobre a nossa condição natural, será que somos mesmo tão intocáveis, tão seguros das nossas qualidades, tão fortes?De acordo com Kubrick, não somos.Em alguns momentos, nosso próprio corpo nos mostra isso.O cérebro humano é um elemento valiosíssimo, que nos proporciona a possiblidade de criar e de compreender certas coisas de maneiras diferentes, talvez nem sempre certas, mas diferentes.Essa é a nossa grande qualidade, a capacidade de pensar em uma coisa de diversas maneiras, sob várias óticas.Porém, uma das grandes características do homem, na minha opinião, é a instabilidade.Se existe a qualidade e possibilidade da criação, existe também a da destruição.E, a depender do estado em que nos encontramos, podem ser muito mais desastrosas, e é nesse momento que entram os nossos instintos.O "elemento destruição" é o que impera em Alex, e que imperava também em Beethoven, esquizofrênico, e talvez por isso combinem tão bem juntos.A loucura está presente no cérebro, tanto quanto está a genialidade e a inteligência.O louco não é desequilibrado, é apenas instintivo, e por isso é incompreendido.

Todos nós somos um pouco loucos, um pouco gênios, um pouco inteligentes, quando alguém é mais algumas coisa, sempre atrai a atenção.Alex é como Kubrick, um louco genial, que bebe leite em vez de álcool, e usa sua mente no estado mais instintivo possível.Qualquer homem retirado de seu estado natural sofre sequelas incalculáveis.E a mente, elemento central de toda trama, e de qualquer homem, está novamente presente.

Bom Dia.

Quanticum.

Wednesday, January 17, 2007

As bilhões de maneiras de se escovar os dentes.

Boa Noite.
Desculpem a demora pra postar..

Uma grande virtude das pessoas, hoje em dia, é a capacidade de aproveitar cada circunstância, de poder perceber o que cada lugar tem a oferecer, escondido nos olhos das outras pessoas, nos cartazes na parede, no letreiro colorido, até mesmo no piso quebrado.Muitas vezes, o medo de observar, de interagir com o espaço, faça com que esses sentidos se tornem opacos, escuros.Tudo depende do modo como se vê cada coisa, cada lugar.

Todas as cores que nós enxergamos, por exemplo, são apenas interpretações do nosso cérebro, que recebe a luz, que não tem cor, calcula a sua frequência e define qual a cor que corresponde a ele.Cada luz tem sua cor definida pela frequência com a qual chega no nosso cérebro.Existe exemplo maior da relatividade das coisas do que esse?

Eu acho que existem medos, anseios e receios que cada circunstância ou lugar nos imprime, fazendo com que a nossa visão de determinada coisa deforme a mesma..É mais ou menos o que citei no texto das diversas realidades, na verdade o que se vê não é o real, é só o que se pensa ser o real.Só que o pensamento humano é tão torto, tão turvo, que as definições são ás vezes, absurdas.

Eu pensei muito nesse tema quando estava em um ônibus, com uns amigos, e vendo como a reflexão e a observação das coisas podem modificá-las.Cada coisa tem uma forma, uma cor diferente, a depender da circunstância, e da interpretação que damos a ela.Por isso que dizem que depois que se compra um carro, ou uma roupa, você os vê com muito mais frequência na rua, nas pessoas.O cérebro assimila exatamente o que já existe, o que não é estranho, até que se procure conhecê-la.Quantas milhões de pessoas passam pela rua, na nossa frente, e nós não lembramos?Quantas coisas acontecem, quantos sons ouvimos, quantas cores vemos, quantos momentos observamos acontecer e não nos damos conta?É absurdamente incalculável a quantidade de coisas que acontecem a cada fração de segundo.

E nós damos tanta importância á nossa vida, nosso ciclo social, nossas atividades diárias, porque essa é a nossa vida, do nosso jeito, sob a nossa visão, e ninguém nunca poderá vê-la exatamente como o "executor" de sua própria vida enxerga.Quantas pessoas escovam os dentes todo dia, pela manhã?Todas as pessoas que escovam os dentes, escovam com um jeito, um quê diferente.Se todas as pessoas(que estão vivas) do mundo dormem e acordam, existem mais de 6 bilhões de maneiras de se acordar.Existem mais de 6 bilhões de maneiras de se pensar!Existem bilhões de maneiras de se ver todas as coisas..

Espero que possam entender..eu vejo tudo claro, como água.
O mundo é feito da maneira como vemos as coisas, todas as coisas só me carregam até essa conclusão.

Boa noite

Quanticum.

Monday, January 01, 2007

As diversas realidades do mundo.

Boa Noite.

Mais uma reflexão do fundo da cabeça me arrebentou com violência os neurônios: As diversas realidades do mundo.O que vem a ser a realidade, de fato?Não há modo, ao meu ver, de definir a realidade como algo concreto, sólido, palpável.Vejo a mesma como uma projeção de cada mente, cada pensamento.Não é possível diferenciar uma realidade de outra porque cada uma é única, não se pode explicar o que se vê, só se pode dizer, baseado em convenções, palavras comuns a cada realidade, o que se observa, ou parte do que se observa.

Todas as nossas características, desejos, anseios, medos, tudo se imprime na realidade que vemos a todo momento em nossas vidas.Será que essas "características" modificam o nosso modo de ver as coisas? As pessoas com anorexia são um ótimo exemplo disso.O que leva uma pessoa a se ver de determinado modo, se ela não é daquela maneira? Isso é, claramente, uma distorção da chamada realidade.O medo em ser gordo, ou ser feio, distorce a maneira como uma pessoa com anorexia vê as coisas.Tudo bem, a anorexia é uma doença, não é um estado são, mas isso não vem tanto assim ao caso.Outro exemplo: Uma pessoa que tem um terrível medo de baratas.Essa pessoa ao ver uma barata, teria uma visão completamente diferente de uma pessoa que não tem medo algum,para quem a barata seria somente um inseto.Nós, humanos, não conhecemos os limites das nossas mentes, o que ela é capaz de fazer com o nosso corpo.O centro do corpo, na minha opinião, é a cabeça.Se a "realidade"é algo assim tão disforme, tão abstrata, tão sem controle, será que a mesma existe?Ou será que existe uma criação individual dos objetos e sentidos que nos rodeiam?

Eu gosto de pensar que as mentes vibram.Em "frequências", ou alguma palavra mais adequada.E que as realidades são fruto das vibrações, que se propagam em desejos, cores, sentimentos, pensamentos.E as vibrações parecidas definem a afinidade das pessoas.Os artistas tem arco-íris nos olhos, os pensadores levam o mundo nos olhos.Afinal, o que poderia ser melhor pra definir o mundo do que os nossos desejos?O mundo é do jeito que cada um vê, da maneira que a mente de cada pessoa vibra, é a maneira como gosto de pensar, como desejo pensar, e como penso no mundo.Qual a sua vibração?O que você pensa, e como pensa, define a pessoa que você é.

Boa Noite

Quanticum.